Como no Domingo passado, também neste, a liturgia nos brinda com mais três belíssimas parábolas para ajudar-nos a entender o valor e a preciosidade do Reino de Deus: o tesouro escondido no campo, a pérola preciosa e a rede lançada ao mar.
As primeiras duas seguem a mesma dinâmica, tanto o lavrador que descobriu o tesouro no campo como o colecionador de pérolas, vendem tudo o que tem para comprar algo muito precioso. A mensagem para os ouvintes de Jesus salta aos olhos: o Reino de Deus é essa preciosidade tão forte e significativa que justifica sacrificar todas as outras coisas que alguém possui em troca do Reino.
A parábola da rede lançada no mar que recolhe peixes bons e maus é muito parecida com a do joio e do trigo. No fim dos tempos vai acontecer uma triagem.
Conseguimos ver na realidade do Reino de Deus essa riqueza, preciosidade e excelência? É Jesus e o Reino que Ele inaugurou a razão de nossa felicidade? Como se manifesta isso em nós? Nossa alegria vem do fato de termos encontrado Jesus? O que nossos olhos revelam?
Uma historia que pessoalmente gosto muito e que nos pode ajudar a entender a importância que o Reino tem para nós cristãos:
“Conta-se que, um belo dia, chegaram à América cinco emigrantes de uma aldeia perdida nas fragas da Biscaia. Era o tempo da América dourada e os homens para ali emigraram em busca do ouro.
Passaram vários anos a cavar terra dura, a filtrar água dos rios, sempre na esperança de um dia aparecer a primeira pepita dourada. Uma esperança que ia enganando a vida dura que levavam e as saudades que sentiam da Biscaia distante. Mas de ouro nem sinal.
Até que uma bela madrugada, mal o sol tinha despontado nos píncaros da montanha, um dos cinco parou extasiado. Ali mesmo, perto do rio, o sol refletia-se com extraordinário fulgor: era uma pedra redonda, brilhante, luminosa que o atraía. Ou se enganava muito ou era mesmo ouro.
Chamou os amigos e mostrou-lhes o prodígio. Com o respeito de quem se aproxima de coisa sagrada, os quatro não tiveram dúvidas: aquela pedra era mesmo ouro puro.
Com as mãos febris, os cinco começaram a tirar a terra molhada que envolvia a pedra miraculosa e o assombro foi ainda maior: aquela pedra provinha de uma rocha toda de ouro, escondida debaixo da terra, a poucos metros de profundidade. Era uma mina de ouro.
Quase instintivamente recobriram a pedra com a terra molhada e, antes que chegasse mais alguém, marcaram encontro para a noite, a fim de acertar as idéias sobre a decisão a tomar. E no encontro dessa noite, todos estiveram de acordo em não revelar a ninguém aquele segredo. Todos deram sua palavra de honra sobre este sigilo.
O dia seguinte era Domingo e, como acontecia todos os domingos, os cinco desceram ao povoado. Era o dia em que habitualmente todos os emigrantes ali estacionados à busca do mesmo se encontravam para conviver e matar a solidão. Roupa lavada, cara domingueira, lá desceram em direção à aldeia.
Foram à missa, almoçaram na cantina com os conterrâneos, bailaram com as moças da terra, repetiram histórias já de todos conhecidas. E dormiram felizes, envoltos em sonhos de ouro, jorrando por toda a montanha.
De manhã, os cinco, como se nada tivesse acontecido, regressaram para o monte. Mas para surpresa sua, deram-se conta de que vários homens, em grupos diferentes, os seguiam. Olharam-se uns aos outros a ver quem teria sido o traidor.
Mas não, a surpresa era igual para todos: ninguém quebrara o segredo, ninguém faltara à palavra dada.
Até que um deles se voltou e perguntou frontalmente aos que os seguiam:
– Porque é que nos seguis?
Resposta imediata:
– Porque encontrastes ouro.
– E quem vo-lo disse?
– Ninguém.
– Então como sabeis?
– Como sabemos?
Ora, vê-se nos vossos olhos.”
Não é bonito? O que os nossos olhos refletem? Será que o nosso jeito de ser e nossa vida comunicam a alegria de quem em encontrou um tesouro ou o mais precioso de todos os tesouros: Jesus?
Que bom seria se as pessoas pudessem ver estampado em nosso rosto a alegria e a paz do tesouro dos tesouros encontrado: Jesus!
Se Deus nos deu o que tinha de mais precioso, seu próprio Filho, não nos dará com Ele todas as outras coisas?
O tesouro e a pérola preciosa estão por aí, escondidos em nossas comunidades, conseguimos vê-los?
Na triagem do Pai – peixes bons e peixes maus – gostaríamos de estarmos entre os bons, não os que vão para a panela, mas que entram no Reino inaugurado por Jesus. Isso vai depender da nossa persistência no buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça, certos que tudo o mais nos será dado por acréscimo.
Dom Jaime Pedro Kohl
Bispo de Osório