O apelo missionário verdadeiro é sempre acompanhado por desejos de peregrinar. O caminho faz parte do ser cristão. A vida cristã é uma continua peregrinação na busca do Reino de Deus que encontramos na proposta do seguimento de Jesus Cristo.
Quem não ousa fazer esse trajeto missionário com passos e olhar de peregrino vai perdendo a beleza do caminho e o sentido da missão. O medo, a pressa de chegar e as dispersões da caminhada são alguns dos empecilhos que deixam a vida sem graça, sem cor e sem razão de ser.
A missão começa a se enfraquecer, a perder o sentido quando hesitamos em realizá-la, quando deixamos de seguir o Cristo.
Os que desejam realmente realizar a jornada missionária peregrina propõem-se a viver uma aventura humana e espiritual que exige um caminhar… devagar e sempre. Muitos se oferecem para a missão, mas estão fechados em si mesmos. Não existe missão que se faça apenas externamente.
O caminho missionário é uma peregrinação para dentro e para fora de si. A qualidade da missão externa revela o peregrinar interno: os medrosos, os fracos, os que não confiam na graça de Deus, que nos chama e envia para a missão, não conseguem se abrir ao apelo missionário de peregrinar.
O perigo de fazer a caminhada missionária como turistas e não como peregrinos é grande. Para colocar-se no caminho de Jesus são necessários tempo, mística, atenção, ousadia, sensibilidade, coragem, perseverança e intimidade com Cristo, que nos revela e revela o rosto de Deus na caminhada.
O primeiro passo do peregrino é fazer memória, rever a caminhada e sentir a presença de Deus na vida. Além de fazer memória da caminhada é necessário ter olhos de peregrino, ser contemplativo na ação, assim como fez o samaritano quando encontrou o homem caído à beira da estrada. Deus se mostra na caminhada, até mesmo nos pequenos detalhes que os apressados não conseguem enxergar.
Quando o Papa Francisco convida a Igreja a sair, não deseja que essa saída seja uma corrida, mas assumir passos e olhares de peregrinos. O peregrino sabe acolher, respeitar e amar a caminhada e os caminhantes, deixa-se surpreender por Deus e acolhe com alegria e generosidade os imprevistos da caminhada. Ser missionário é estar disposto a peregrinar no desejo de se encontrar e encontrar Deus que se faz presente no caminho.
Na mensagem do papa para o Dia Mundial das Missões deste ano de 2017, lemos: “A missão da Igreja é animada por uma espiritualidade de êxodo contínuo. Trata-se de ‘sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho’(EG 20). A missão da Igreja encoraja a uma atitude de peregrinação contínua pelos vários desertos da vida, por meio das experiências de fome e sede de verdade e justiça.
A missão da Igreja inspira uma experiência de exílio contínuo, para fazer sentir ao homem sedento de infinito a sua condição de exilado a caminho da pátria definitiva, pendente entre o ‘já’ e o ‘ainda não’ do Reino de Deus.
A missão adverte a Igreja de que não é fim em si mesma, mas instrumento e mediação do Reino. Uma Igreja autoreferencial, que se agrada dos sucessos terrenos não é a Igreja de Cristo, seu corpo crucificado e glorioso. Por isso mesmo, é preferível ‘uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças’ (EG 49)”.
Que o Senhor nos dê a graça de desejar fazer essa peregrinação de vida como verdadeiros seguidores de Cristo.
Um material farto e abundante para acender em nós a paixão pela missão podemos encontrá-lo em nossas secretarias paroquiais ou mesmo no site das Pontifícias obras Missionários, especialmente, os nove testemunhos missionários em vídeo (DVD).
Quem puder participar de algum grupo e fazer a Novena Missionária será uma experiência enriquecedora. Esse jeito de peregrinar pelo mundo através dos meios de comunicação pode ser o início de um peregrinar efetivo na Missão Ad Gentes.
Lembro as três formas de participar deste espírito missionário: a oração individual e comunitária, a oferta de meios materiais – vem aí a coleta do próximo final de semana, 21 e 22 de outubro – e a entrega da própria vida mundo afora, graça dada a poucos e que precisa ser pedida ao Senhor da Messe.
Coloquemo-nos a caminho e o esforço não será em vão.
Missão é peregrinar! Missão é partir!
Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório