A primeira leitura deste quinto domingo do tempo comum é tirada do Livro de Jó. Sua história é muito interessante e tenta explicar que o sofrimento humano não é castigo de Deus, mas realidade que faz parte da fragilidade humana. Alguns autores inclusive sugerem que a história de Jó é a própria história do povo de Israel. Sua mensagem pode nos ajudar a entender e acolher com serenidade os desafios e interrogações que a pandemia nos põe, hoje.
Quando nos aventuramos em procurar o porquê de algumas tramas e sofrimentos pelas quais passa a humanidade, se não estamos fundamentados numa fé esclarecida, podemos cair em juízos e atitudes que não correspondem a verdade. A tentação de culpar Deus é uma destas atitudes não corretas. Achar que é castigo de Deus pior ainda. A vida do personagem Jó desmente a teoria da retribuição e sua fidelidade, mesmo entre calúnias dos amigos terá um final feliz.
O sofrimento é ainda maior quando o julgamento vem por parte de parentes, amigos ou pessoas próximas que começam dar margem ao delírio da imaginação tirando conclusões precipitadas a partir de insinuações originadas por “raças de víboras” que se aproximam só para colher informações com o único objetivo de denegrir e condenar.
O texto pergunta: “Não é acaso um luta a vida do homem sobre a terra?” Se formos olhar com objetividade devemos reconhecer que isso tem tudo a ver com a nossa vida.
Depois segue: “Se me deito penso: quando poderei levantar-me? E ao amanhecer, espero novamente a tarde e me encho de sofrimento até o anoitecer. Meus dias correm mais rápido do que a lançadeira do tear e se consomem sem esperança”. Não parece ser a reação de um deprimido, desesperado?
Mas, como que, tirando ou deixando entrever uma conclusão: “Lembra-te de que a minha vida é apenas um sopro e meus olhos não voltarão a ver a felicidade”. O reconhecimento da brevidade e da vulnerabilidade da vida, até mesmo admitindo que possa não voltar a recuperar a vida tranquila e operosa que possuía na origem, fica sempre um fio de esperança. A certeza de ter caminhado retamente permite passar pela provação sem revolta ou desespero.
Certamente, uma das lições da pandemia é que somos passageiros, que ninguém tem garantia de nada, que todos somos frágeis e suscetíveis. Consequentemente, precisamos caminhar na humildade e confiança, agradecendo cada dia pela oportunidade de continuar vivendo, trabalhando e fazendo o bem, pois toda hora é hora, tanto de ficar, como de partir. Sim, nossa vida é apenas um sopro, mas carregado de eternidade!
Para refletir: Como me coloco diante da limitação, fragilidade e vulnerabilidade da vida? Consigo assumi-la com simplicidade e serenidade como ela é? O que me ajuda a dar um sentido a cada instante que me é dado viver? Como a fé ilumina tudo isso?
Textos bíblicos: Jó 7, 1-7; 1Cor 6, 16-19.22-23; Mc 1, 29-39; Sl 146.