A Voz do Bispo › 27/02/2021

Primeira parada

Dando seguimento as nossas reflexões sobre a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021, o fio condutor é do tema: “Fraternidade e diálogo: um compromisso de amor”. Para mim a grande conversão que somos chamados a realizar é a conversão ao diálogo pois esse é o caminho que precisamos percorrer para chegar a verdadeira fraternidade.

O texto base da CFE segue a metodologia já consolidada no nosso meio, ou seja, o ver, julgar e agir, mas tendo como pano de fundo o texto de Lc 24 – os discípulos de Emaus – usando uma nova nomenclatura: “Parada”. São quatro paradas. Na primeira parada, que a parte da narrativa em que o forasteiro se aproxima dos discípulos e vai falando sobre os últimos acontecimentos, somos convidados a constatar a realidade brasileira do momento. Conversar sobre os acontecimentos e vai fazendo algumas constatações.

A primeira constatação é que a pandemia nos coloca frente a frente com a finitude humana. A covid -19 revela nossa fragilidade, vulnerabilidade e potencial autodestrutivo.

Depois surgiu a discussão sobre o papel essencial das igrejas: templo aberto e celebrações numerosas ou o serviço ao próximo? De formas diferentes, mas iniciativas aconteceram para ambas as questões.

Apareceram os negacionistas e as teorias conspiratórias sugerindo  que a Covid-19 teria sido desenvolvido pela China, o que  contribuiu para fomentar a luta geopolítica, bem como a xenofobia.

Foi preciso reconhecer que o Brasil retornou ao mapa da fome , do desemprego, do aumento das populações de rua, da violência contra as mulheres, negros, indígenas, etc. Aumento da violência nas casas.

Não temos como negar que a sociedade brasileira vive momentos difíceis por causa dos muitos muros construídos: do racismo, das desigualdades econômicas, da dificuldade de conversar com opiniões diferentes, do desrespeito e ataque às instituições. O “mito da democracia racial” caiu por terra e que o racismo é um elemento estruturante na sociedade brasileira

O seguimento de Jesus exige de nós discernimento diante das mais diversas dúvidas, crises e contradições. Diante de tantos sinais de morte e tantas informações corremos o risco de ficarmos desorientados e incapazes de interpretar a realidade na qual estamos inseridos, como os discípulos de Emaus.

Para nós fica muito claro que “A mensagem de Jesus não ergue muros, mas derruba-os, não é de ódio, mas de amorosidade. Por isso precisamos expurgar a insensatez dos nossos corações e rever a forma como vivemos a nossa fé. Precisamos de profecias que abram nossos olhos para as desigualdades, principalmente daquelas promovidas em nome de Jesus Cristo” (91). Que Cristo Jesus neste tempo quaresmal nos abra o coração, nos converta ao diálogo e nos livre do vírus dos preconceitos.

 

Para refletir: Sou alguém que consegue conversar sobre tudo e sobre todos sem guardar mágoas de ninguém? Posso me dizer uma pessoa livre de preconceitos? Será? Geralmente como são os meus diálogos? Como as pessoas saem dos encontros comigo?

 

Textos bíblicos: Gn 22, 1-18; Rm 8, 31-34; Mc 9, 2-10; Sl 115.

 

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