Benedito Salvador Ataguile completa um ano de missão em Moçambique, na África

A missão consiste em atuar no projeto Igrejas Solidárias do Regional Sul 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em iniciativas de caráter humanitário e de promoção humana.

A paixão de Benê pelo verde inspira as crianças e já gerou novas hortas nas comunidades vizinhas

O biólogo, professor e missionário leigo Benedito Salvador Ataguile, conhecido carinhosamente como professor Benê em Torres, completou no dia 4 de outubro de 2024, um ano de trabalho missionário em Moçambique, África. Sua experiência se entrelaça profundamente com a cultura local, proporcionando um aprendizado mútuo repleto de solidariedade e transformação social. A data é ainda mais significativa, pois marca não apenas o aniversário de sua partida do Brasil para a missão, mas também coincide com o Dia de São Francisco de Assis, o santo com o qual Benedito se identifica fortemente, sendo ele o padroeiro dos animais e da natureza.

Ao chegar a Moçambique, Benedito enfrentou as inseguranças comuns a quem se aventura em um novo ambiente. Ele relata que, no início, tudo era muito novo; a diferença de horário, o clima e os costumes impactaram até mesmo seu organismo. Essa adaptação foi gradual e cheia de surpresas, especialmente nas primeiras interações com as comunidades. As celebrações nas localidades de Micane, Jagoma, Larde e Moma se tornaram momentos marcantes em sua experiência.

É marcante a fé e a solidariedade do povo Moçambicano na acolhida do Bêne

“A comoção toma conta de nossos sentimentos”, diz ele sobre as festas litúrgicas. “Antes da missa, somos recebidos com um café da manhã chamado ‘mata bicho’, feito com alimentos que povo mesmo produz. A comida é deliciosa e aguça nosso paladar para novos sabores”, conta Benê.

Esses momentos de partilha deixaram uma impressão duradoura em Benedito. “Como pode um povo tão simples, com tantas dificuldades, nos doar o que tem? A solidariedade deles é imensa”, reflete. “Essa partilha deveria ser um exemplo para toda a humanidade.”

 

MISSÃO

O missionário Benê também se dedica a atividade de reforço escolar e alfabetização de crianças e mulheres

Atualmente, Benedito dedica-se ao projeto “Murima Wa Mwana” (Coração de Criança), que visa oferecer educação às crianças e adultos na cidade de Moma. “As aulas de reforço escolar vão da pré-escola até a sexta classe, e também trabalhamos na alfabetização de adultos”, explica. No final do ano letivo, ele propôs a criação de hortas para suprir as necessidades alimentares da comunidade escolar.

A implementação das hortas se deu por meio de técnicas de cultivo e envolvimento das crianças. “As crianças participaram ativamente do plantio, e a felicidade delas ao ver as sementes germinarem era contagiante”, diz. A horta não só atende à demanda alimentar das crianças, mas também inspirou a criação de outras oito hortas na região, abastecendo as comunidades vizinhas.

Benedito observa um impacto positivo no ambiente escolar: “A evasão escolar diminuiu significativamente em comparação aos anos anteriores. As crianças estão mais felizes e motivadas para estudar.” Além disso, as mudas de plantas são levadas para casa, promovendo a continuidade do aprendizado e a conexão com a natureza.

A missão de Benedito não se limita ao ensino. “A experiência aqui me mostrou que a solidariedade e a fé estão profundamente enraizadas na cultura local. As pessoas são extremamente educadas e acolhedoras”, observa. “A missão é uma oportunidade de crescimento pessoal e coletivo, onde aprendemos muito mais do que ensinamos.”

Ele enfatiza que o trabalho com a comunidade vai além da educação formal. “Desenvolvemos um espaço lúdico com balanços e mesas, criando um ambiente mais amigável para o aprendizado. Além disso, instalamos um bebedouro com água tratada para atender às necessidades das crianças”, conta.

Benedito acredita que o trabalho realizado traz benefícios tanto para os alunos quanto para a comunidade como um todo. “Os adultos da alfabetização também estão envolvidos no processo, e a colaboração entre todos é essencial para o sucesso do projeto”, diz. “Estamos construindo um senso de comunidade que vai além das aulas.”

 

APRENDIZADOS QUE TRANSFORMAM

“Aprendi a valorizar a simplicidade da vida e a importância da solidariedade”, afirma Benê

Ao longo desse ano, Benedito percebeu que a experiência na missão transformou não apenas a vida das crianças, mas também a sua. “Aprendi a valorizar a simplicidade da vida e a importância da solidariedade”, reflete. “A missão me ensinou que a verdadeira riqueza está nas relações humanas e na capacidade de ajudar o próximo.”

Com um olhar esperançoso, Benedito reafirma seu compromisso: “Acredito que estamos criando um futuro melhor, onde a educação e a solidariedade andam de mãos dadas. É uma lição de vida que levo comigo e uma oportunidade de contribuir para um mundo mais justo.”

A missão em Moçambique, faz parte de um projeto da Igreja Católica no Rio Grande do Sul, por meio do Regional Sul 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o projeto Igrejas Solidárias, um exemplo inspirador de como o amor e a solidariedade podem florescer, mesmo em meio a desafios. Com a determinação de Benedito junto a outros missionários e a força da comunidade, o futuro em Moçambique brilha com a promessa de mudança e esperança.

PROJETO IGREJAS SOLIDÁRIAS

Em 2024, o Regional Sul 3 da CNBB celebra 30 anos do envio dos primeiros missionários para Moçambique. Com respeito pela cultura, buscando aprender a língua e inserir-se na realidade da população, atualmente a equipe missionária atua no acompanhamento pastoral de duas paróquias: São Paulo Apóstolo de Larde e São Miguel Arcanjo de Micane. Junto às lideranças paroquiais, os missionários auxiliam na organização dos ministérios e serviços, na promoção vocacional e na formação de animadores e animadoras leigos.

Atenta à realidade e às necessidades da comunidade local, a equipe também desenvolve projetos sociais nas áreas de educação, através de uma Biblioteca Comunitária e de uma pequena escolinha, proporcionando reforço escolar e alfabetização de crianças e mulheres, chamada Murima Wa Mwana.

Atualmente, a equipe missionária é composta de cinco pessoas: a leiga Maria Bernardete Acadroli, da Diocese de Caxias do Sul; o leigo Benedito Ataguile, da Diocese de Osório; e os padres Luiz Weber, da Diocese de Santo Ângelo; Henrique Neis, da Diocese de Novo Hamburgo; e Josemar Silva, da Arquidiocese de Florianópolis (SC).

 

CAMPANHA MISSIONÁRIA

Já no âmbito nacional da Igreja Católica, as Pontifícias Obras Missionárias (POM) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realizam todos os anos durante todo o mês de outubro, a Campanha Missionária, que tem o objetivo de fortalecer os laços de solidariedade e promover a animação missionária no Brasil e missão “ad gentes”, como o projeto de Moçambique, que visa evangelizar as nações mais pobres e remotas do mundo.

Para inspirar as atividades da Campanha Missionária, neste ano o lema é “Ide, convidai a todos para o banquete”, frase inspirada no texto de Mateus 22,9 e escolhida pelo Papa Francisco. O tema será “Com a força do Espírito, testemunhas de Cristo”, nos fazendo permanecer em comunhão com a Igreja da América que se prepara para viver o 6º Congresso Missionário Americano, o CAM6, em novembro deste ano, em Porto Rico.

DIA MUNDIAL DAS MISSÕES

Uma das iniciativas mais emblemáticas das Pontifícias Obras Missionárias é o Dia Mundial das Missões, que neste ano acontece nos dias 19 e 20 de outubro. No Brasil, foi assumida a Campanha Missionária durante o mês de outubro e que tem como objetivo principal conscientizar os fiéis sobre a importância da missão na Igreja e angariar recursos para apoiar os esforços missionários em diferentes partes do mundo.

Através da Campanha Missionária e de outras iniciativas, as Pontifícias Obras Missionárias reafirmam o compromisso da Igreja Católica com a missão evangelizadora, inspirando os fiéis a se engajarem ativamente na difusão do Evangelho e na construção de um mundo mais justo, solidário e fraterno.

Durante esse mês especial, são organizadas diversas atividades nas paróquias, escolas e comunidades católicas, incluindo celebrações, formações, novenas e experiências missionárias, lembrando a solidariedade com os povos em situação de vulnerabilidade.

Além de sensibilizar os fiéis, a campanha também tem um importante aspecto de arrecadação de fundos. As doações recebidas durante esse período são destinadas ao Fundo Mundial de Solidariedade em Roma, que apoia projetos de evangelização, educação, saúde, desenvolvimento comunitário e assistência social em áreas de missão ao redor do mundo.

No Brasil, a Campanha Missionária é uma atividade que, desde 1972, ajuda a fortalecer a identidade missionária da Igreja. É uma iniciativa que acontece em comunhão com o Conselho Missionário Nacional (COMINA) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

 

 

Fonte: Jornal do Mar / Melissa Maciel