A Voz do Bispo › 28/09/2018

Assumir a dimensão política da fé

Neste ano eleitoral, o Brasil vive um momento complexo, alimentado por uma aguda crise que abala fortemente suas estruturas democráticas e compromete a construção do bem comum, razão da verdadeira política. A atual situação do País exige discernimento e compromisso de todos: cidadãos e instituições.

Ao abdicarem da ética e da busca do bem comum, muitos agentes públicos e privados tornaram-se protagonistas de um cenário desolador, no qual a corrupção ganha destaque, ao revelar raízes cada vez mais alastradas e profundas. Cresce, por isso, na população, um perigoso descrédito com a política.

A perda de direitos e de conquistas sociais, resultado de uma economia que submete a política aos interesses do mercado, tem aumentado o número dos pobres e dos que vivem em situação de vulnerabilidade. Inúmeras situações exigem soluções urgentes. Os discursos e atos de intolerância, de ódio e violência, tanto nas redes sociais como em manifestações públicas, revelam uma polarização e uma radicalização que produzem posturas antidemocráticas, fechadas a toda possibilidade de diálogo e conciliação.

Nas eleições, não se deve abrir mão de princípios éticos e de dispositivos legais, como o valor e a importância do voto, embora este não esgote o exercício da cidadania; a lisura do processo eleitoral, fazendo valer as leis contra a corrupção eleitoral e a “Lei da Ficha Limpa”.

É fundamental conhecer e avaliar as propostas e a vida dos candidatos, procurando identificar com clareza os interesses subjacentes a cada candidatura. A campanha eleitoral torna-se, assim, oportunidade para os candidatos revelarem seu pensamento sobre o Brasil que queremos construir.

Não merecem ser eleitos candidatos que se rendem a uma economia que coloca o lucro acima de tudo e não assumem o bem comum como sua meta, nem os que propõem e defendem reformas que atentam contra a vida dos pobres e sua dignidade. São igualmente reprováveis candidaturas motivadas pela busca do foro privilegiado e outras vantagens.

Exortamos a população brasileira a fazer desse momento difícil uma oportunidade de crescimento, abandonando os caminhos da intolerância, do desânimo e do desencanto. Incentivamos as comunidades eclesiais a assumirem, à luz do Evangelho, a dimensão política da fé, a serviço do Reino de Deus.

Sem tirar os pés do duro chão da realidade, somos movidos pela esperança, que nos compromete com a superação de tudo o que aflige o povo.

Acrescento: “Que dera que todo povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor lhe concedesse o seu espírito!” (Nm 1, 29).

Confiamos bom senso e discernimento responsável do povo.

 

Para refletir:

– A essa altura deveria já ter feito as minhas escolhas sobre os candidatos a serem votados. Estou fazendo isso conscientemente e com toda liberdade?

– O que tenho olhado e considerado? Quais foram os meus critérios? Estou levando em conta a realidade da nossa Pátria?

– Ajudar alguém a votar bem e conscientemente também é uma obra de caridade. Conheço alguém que precisa ser iluminado no discernimento? Estou disposto a fazê-lo?

 

Textos bíblicos: Nm 11, 25-29; Tg 5, 1-6; Sl 18, 1-4; Mc 9, 38-48.

 

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