O pensamento de Jesus expresso no sermão da montanha continua desafiando-nos e provocando em nós uma revisão de nossas atitudes e comportamentos. Assumir o seguimento de Jesus implica acatar suas propostas de vida, estar dispostos a arcar com as consequências. Ele deixou claro que não veio abolir a Lei, mas cumpri-la e completá-la.
A primeira contestação de Jesus é sobre a lei da retribuição: “Olho por olho, dente por dente”. A “lei do talião”, comum entre os povos arcaicos, embora colocasse limite na violência, mas a alimentava. Jesus faz uma proposta completamente diferente, passando da retribuição ao amor gratuito, propondo o perdão sem limites. Por isso “se alguém te bate na face direita, oferece também a esquerda”.
No que se refere ao amor do próximo, propõe a radicalização do amor, superando a lógica humana. Não mais “amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”, mas “amai os vossos inimigos e rezai pelos que vos perseguem”.
Tudo muito paradoxal e aparentemente impossível de ser praticado, humanamente falando, mas possível para quem crê e para quem ama do jeito de Deus, que “faz nascer o sol sobre maus e bons, chover sobre os que fazem o bem e os que fazem o mal”. É a Ele que devemos imitar: “porque se fazemos o bem somente aos que nos faz o bem, o que fazemos de especial? Se amamos aqueles que nos amam que fazemos de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa?”
O “sede perfeitos como vosso Pai que está nos céus é perfeito” significa, justamente, que o discípulo de Jesus é chamado a amar e fazer o bem, também, aos inimigos, aos antipáticos, aqueles que nos perseguem… A perfeição proposta por Jesus, não consiste em sermos bem encaixados dentro das leis, mas em sermos animados pelo amor. Por isso a pergunta do título: é possível amar os inimigos?
Humanamente falando podemos achar impossível, mas não se acreditamos no poder da graça. Jesus na cruz nos aponta esse caminho. Santo Estevão nos dá testemunho podemos sim chegar a esse heroísmo no amor: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Em tempos de polarização, intolerância e violência sempre mais cruel somos chamados a contrapor ao ódio o mandamento do amor. Para a santa de Calcutá, esse tipo de amor brota de uma decisão e não de um sentimento. Amor que pode fazer a diferença e colabora na construção da civilização do amor.
Deus não nos trata segundo as nossas faltas e limitações, mas segundo sua própria bondade, nós também precisamos deixar as visões arcaicas e assumir a proposta de Jesus: Amar! Amar! Amar! Amar sempre! Somente o amor cristão pode abrir caminhos para a superação dos conflitos grandes ou pequenos, seja entre pessoas, famílias, grupos e até mesmo povos. Portanto, é possível sim, amar os próprios inimigos!
Para refletir: Como essa proposta de Jesus ressoa aos meus ouvidos? Já cheguei a assumir para mim a decisão da Madre Tereza: AMAR sempre! Consigo no meu cotidiano retribuir ao mal com o bem? Como? Quando?
Textos bíblicos: 1Cor 3,16-23; Mt 5, 38-48; Sl 102(103).