A conclusão do Evangelho deste Domingo: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16, 13) dá o que pensar, tem pano pra manga. É aut-aut, parece não ter nenhuma possibilidade de juntar “um” e “outro”. Vamos tentar entender um pouco.
Que Deus seja o “bem” por excelência, creio que poucos se atrevem contestar, especialmente no ambiente religioso, cristão, católico do povo brasileiro em geral. Mesmo que tenha alguém e, sempre tem, que não comungue com esse pensamento, podemos encontrar pessoas que ainda vivem sob o incubo de um Deus fiscal, pronto a castigar os que se desgarram dos mandamentos divinos, mas dificilmente alguém acredita ou fala que Deus é o “mal”.
E o dinheiro que o Evangelho parece colocá-lo numa nítida contradição com Deus, como fica? O dinheiro por si mesmo é bom ou é mau? Na sua realidade material, no seu valor simbólico, enquanto meio de troca, todos entendem perfeitamente que o em si mesmo não é uma coisa má, mas até necessária e que facilita muitas coisas no contexto socioeconômico.
A resposta humana ao dom da criação confiada ao homem tem produzido muitos bens e meios para o convívio humano, entre pessoas e povos. O que complicou tudo foi o fechamento na própria autonomia, na avidez de possuir e explorar egoisticamente, levando para o apego às coisas e à idolatria do dinheiro. Como afirma o papa Francisco, na raiz de tudo está o fato de termos esquecido quem somos: criaturas à imagem de Deus, chamadas a habitar como irmãos e irmãs a mesma casa comum. Quando os homens esquecem que são todos irmãos, as coisas começam a complicar e, uma série de males vão aflorando por todos os lados.
Cientes que a criação é o primeiro livro que Deus abriu diante de nossos olhos e cada criatura uma ‘Palavra de Deus’, podemos aprender quanta coisa boa Deus colocou em nossas mãos e quantas outras nos possibilitou criar para o maior bem de todos. Se repararmos bem na vida de Jesus e no seu evangelho vemos que Ele não desprezou o dinheiro, mas condenou a usura, ou seja, o apego ao dinheiro, a ganância de ter por ter ou ter para dominar e comprar a vida dos irmãos.
De qualquer modo essa palavra nos ajuda a refletir sobre os nossos estilos de vida, verificando como muitas vezes são levianas e danosas as nossas decisões diárias em termos de comida, consumo, deslocação, utilização da água, da energia e de muitos bens materiais e, entre estes, o dinheiro. O que não podemos fazer é colocar a nossa confiança nos bens materiais, pois estes passam como sono da manhã, como a erva verde que apenas cortada logo seca. Nós colocamos nossa confiança e esperança no Senhor. O mal não está em ter dinheiro, mas no mau uso que dele podemos fazer. Quando não adquirido honestamente e não aplicado para fazer o bem e gerar desenvolvimento para todos.
Digamos não à avidez de consumos e aos delírios de onipotência, caminhos de morte; tomemos percursos clarividentes, feitos de renuncias responsáveis hoje para garantir perspectivas de amanhã. Não cedamos às lógicas perversas dos lucros fáceis; pensemos no futuro de todos, antes que seja demasiado tarde. O dinheiro como os outros bens materiais não são malignos. Tudo depende de como lidamos com eles. Só pode partilhar quem tem algo. Assim, o mal não está em ter dinheiro ou bens, mas no apegar o coração ao dinheiro e aos bens como se fossem a única razão de viver e ser feliz. Para nós cristãos, Jesus é o caminho, a verdade e a vida.
Para refletir: O que eu penso do dinheiro? É ele condição de felicidade? Quando ele é bom e quando é um mal? Em que sentido o apego ao dinheiro pode influenciar a vida do planeta? Como entender a palavra de Jesus: “Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro”?
Textos Bíblicos: Am 8, 4-7; 1Tm 2, 1-8; Lc 16, 1-13; Sl 112(113).