Com a Solenidade de Pentecostes estamos concluindo o tempo Pascal. Depois de sua crucificação e morte, Jesus apareceu muitas vezes aos discípulos mais próximos, os que haviam vivo e sofrido com ele e na última vez depois de desejar-lhes a paz – como sempre fazia – soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo”.
Nós também o recebemos na sua plenitude no dia da nossa Crisma, quando o bispo impôs a mão sobre nossa cabeça e nos ungiu com Óleo e olhando-nos nos olhos, disse: “Recebe por este sinal o Espírito Santo, dom de Deus” e nós respondemos “Amém”.
Naquele instante selou-se uma aliança de amor com o nosso Deus e Senhor que ninguém pode quebrar. O vínculo é invisível, mas de uma profundidade imensurável. Quando isso é realizado em modo consciente e livre se dá a verdadeira confirmação da fé batismal, tornada pública pelo cristão.
Que coisa boa e bonita é pensar-nos todos morada do Espírito Santo, experimentar a sua presença santificadora, sua paz e sua força! De fato, somos essa casa onde habita Deus.
Para nós católicos isto é algo tão pacífico que corremos o risco de não maravilharmo-nos mais. É uma realidade tão santa e sagrada que, se pararmos para pensar no seu significado e implicâncias, acabamos na exultação e no gozo ou na frustrante angustia pelo amor não correspondido.
A Solenidade de Pentecostes nos diz que o Pai completou a obra começada. Pela morte e ressurreição de seu Filho abriu-nos as portas da salvação, da vida plena. Voltando para o Pai enviou-nos o Espírito Santo, para que nos, discípulos de Jesus, tenhamos sua mesma força espiritual para vivermos nossa missão.
Se repararmos bem, o Evangelho deste domingo, evidência que essa continuidade se dá através de nossa vida cristã: “Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas, Jesus aparece aos discípulos, lhe deseja a paz e lhe diz: como o Pai me enviou, também eu vos envio”.
Esse “como” é muito importante, pois significa com o mesmo jeito, amor e espírito. Podemos dizer, também com a mesma missão: manifestar ao mundo a amor do Pai. “Fareis as obras que faço e ainda maiores”. E para realizar essa missão, nós também, como Jesus, precisamos ser guiados e sustentados pelo Espírito Santo.
Por isso, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “recebei o Espírito Santo! A quem perdoardes os pecados lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, lhes serão retidos”.
À primeira vista, pode parecer demasiado o poder confiado aos discípulos: “o poder de perdoar pecados!” Poder que é efetivamente só de Deus. Contudo, Ele quis que o perdão dos pecados passasse pela mediação dos discípulos ungidos no Espírito Santo. Por isso o sacerdote, não pela sua santidade, mas pela autoridade recebida no Sacramento da Ordem, se legitimamente conferido, tem sim o poder de absolver os pecados, porém quem perdoa é o Senhor.
Pentecostes é tido como a origem da Igreja, pois a partir desse momento, os discípulos que ficaram “cheios do Espírito Santo”, como lemos em Atos 2,4ss começaram a proclamar sem medo de nada e de ninguém que Jesus ressuscitou dos mortos e quem nele acredita e se fizer batizar receberá o Espírito Santo e o perdão dos pecados.
Quanto melhor seria o mundo se nós cristãos assumíssemos de verdade a nossa missão, confirmados na fé batismal que professamos publicamente no dia da nossa Confirmação! Confesso-vos que fico triste quando vejo alguns jovens e adolescentes receberem este dom com frieza e indiferença. Mas fico muito feliz quando os vejo bem-dispostos, dóceis e determinados, embora a timidez que as vezes os acompanha.
Mas isso não nos assusta, justamente porque sabemos que o Espírito continua trabalhando nos corações dos que o recebem, convidando-os a seguir o caminho do Evangelho: caminho do amor e da fé.
Como os Apóstolos, que cheios do Espírito Santo, sentiram-se impelidos a ir pelo mundo a fora para levar a Boa Nova de Jesus, nós também, nos sentimos igualmente enviados a todos os que carecem de esperança, certos que assim fazendo seremos construtores e promotores da unidade dos cristãos.
É bom lembrar que, hoje, além de encerarmos a semana de oração pela unidade dos cristãos, somos convidados a fazermos nosso gesto concreto de solidariedade com a Igreja de Moçambique. Sabemos que o nosso pouco somado com o pouco de tantos outros pode viabilizar muitas obras de caridade e salvar muitas vidas. Sejamos generosos!
Sustentados pelo Espírito Santo de Deus possamos realizar muitas obras boas e cooperar com a missão de evangelizar, dando razão da nossa esperança pelo anuncio da Palavra e pelo testemunho de vida.
Portanto, sem medo, deixemo-nos iluminar e conduzir por Espírito Santo que nos foi dado e os frutos serão abundantes.
Dom Jaime Pedro Kohl
Bispo Diocesano