Catedral

Catedral Nossa Senhora da Conceição: fé e cultura de um povo

Catedral Nossa Senhora da Conceição

Catedral Nossa Senhora da Conceição

Terra da diversidade de povos. O Litoral Norte do Rio Grande do Sul já foi habitado por Guaranis, Kaigangs e Xoklengs, entre outras tribos. E a influência da cultura e da linguagem dos povos indígenas segue nos dias atuais, mesmo após 12 mil anos. É fácil encontrar indícios desses povos em palavras utilizadas para nomear a região, como, por exemplo, “Tramandaí”, “Itati”, “Mampituba”, “Itapeva”, quanto nos sambaquis de Xangri-lá e Capão Alto.

Mas foi na primeira metade do século XVIII, quando os luso-açorianos Manoel Gonçalves Ribeiro e seu irmão, Francisco Xavier Ribeiro, ao receberem a primeira Carta de Sesmaria expedida no Rio Grande do Sul (território de aproximadamente 4.000 km, de Torres até o Rio Capivari) que dá origem a região como é conhecida hoje. A chamada sesmaria “Campos de Tramanday” era trajeto dos tropeiros por ligar a Colônia de Sacramento ao povoado de Laguna (Santa Catarina). Dos “Campos de Tramanday” surgem diversas outras sesmarias, entre elas a da “Estância da Serra”, onde fica atualmente a cidade de Osório. E junto com os primeiros sesmeiros, chegaram também seus escravos, tornando ainda mais múltipla a cultura da região.

A Religiosidade

E foram os escravos que encontraram, em arroio afluente do atual Arroio do Camarão, uma imagem de Nossa Senhora da Conceição que, posteriormente tornou-se a padroeira da cidade. Em 1742, foi construída a primeira capela dos antigos “Campos de Tramanday”. “Era uma construção simples, de madeira, às margens do Arroio da Caieira, o ponto mais alto da planície onde crescia o povoado, e que abrigava a imagem encontrada. Entretanto, os escravos, julgando ser de sua propriedade a imagem de Nossa Senhora, não se conformam com sua mudança de local, da senzala para a capela. Por isso, os negros frequentemente retiravam a imagem da igreja, à noite, e a levavam de volta para junto deles. Cada vez que isso acontecia, o padre, juntamente com um grupo de pessoas, buscava-a novamente, até que se instalou uma redoma de vidro na capela, isolando a imagem. Este fato deu origem à lendade que a santa “fugia” da igreja e aparecia em diversos lugares”, conta o arquiteto Alencar Massulo, que pesquisou sobre a origem da região para embasamento do projeto de reforma da Catedral

De Capela à Catedral

catedralMais tarde, em 1773, Dom Frei Antônio do Desterro criou a Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Arroio (atual Osório), na época com 417 habitantes. E a Igreja Matriz passa a ser construída no período de 1793 a 1873.“Por volta de 1900, o campanário lateral foi demolido. À fachada original, então, acrescentou-se uma torre central, e a antiga cruz de ferro existente deu lugar a uma nova, feita com pedra grês”, explica Massulo.

Com o desenvolvimento do lugarejo foi fundamental uma remodelação. Na década de 50, o cônego Pedro Jacobs (1904 – 1966) é o principal incentivador do novo projeto para a Igreja Matriz, a qual teve as paredes construídas ao redor da antiga. Osório, ainda com seu território original, tinha 55 mil habitantes. Com a criação da Diocese de Osório em 1999-2000, a Igreja Matriz passou a ser designada Catedral.

E, em 2011, após período de consulta popular, novo projeto de reforma (figura 4) é iniciado com novo objetivo. “A principal motivação que nos levou à reforma da Catedral foi a necessidade de uma adequação litúrgica segundo a compreensão do Concílio Vaticano II. Externamente quase não tinha uma cara de igreja, quase que precisava escrever que fosse um templo de Culto. Internamente a disposição dos espaços e dos móveis não seguia uma lógica litúrgica atualizada. Foi possível fazer o que foi feito (a reforma) servindo-nos basicamente da mesma estrutura.”, explica Dom Jaime Pedro Kohl, Bispo da Diocese de Osório.

O novo projeto propôs a alteração na fachada frontal com a permanência de uma única torre com a cruz para recuperar o valor histórico da construção, remetendo à primeira Igreja de 1742, como marco visual da cidade.

Portanto, para todas as comunidades católicas, a Catedral é o ponto de encontro para as principais festividades litúrgicas. Para cidade de Osório um orgulho, um cartão postal, palco de eventos não só religiosos e culturais, mas também cívicos. “Tanto para a cidade como para quem vem visitá-la, a Catedral é um símbolo que convida a olhar para o alto (para Deus) e também para os lados, como um convite a se harmonizar com o mundo, com a natureza e com os irmãos”, acrescenta Dom Jaime.

Conheça a atual disposição dos principais espaços internos e externos da Catedral Nossa Senhora da Conceição:

catedral_expo11. Arco-portal

O encontro da figura do círculo (forma divina, infinita, sem começo nem fim) com o quadrado (forma terrena, humana, limitada por seus quatro lados) origina o pórtico. Simboliza o desejo do encontro da comunidade com Deus, que acontece neste espaço sagrado.

2. Torre

Com um elemento vertical único, a fachada ganha movimento. Com a cruz nesta torre, recupera-se o valor histórico que as torres das igrejas sempre tiveram como marco visual nas cidades.

3. Marquise

Colocada logo abaixo do pórtico, a marquise serve de proteção da entrada frontal contra as chuvas. Sua posição o deslocada do centro da fachada ajuda a reforçar a ideia de movimento, o sentido de avançar, de não se acomodar, de estar sempre a caminho.

catedral_expo25. Construções laterais

Com a planta da igreja em forma de cruz, temos novos volumes nas laterais que tiram o aspecto de “paredão” das fachadas laterais e criam novos espaços dentro e fora da edificação.

catedral_expo36. Desenhos diagonais

Ao longo de todo o perímetro do prédio, interna e externamente, temos desenhos em formas diagonais e cores diversas. Eles simbolizam a diversidade das comunidades, que com suas características próprias constituem a Diocese. As linhas são inspiradas na arte indígena e nos tambores de maçambique. Estes desenhos estão na base do prédio porque a base da Igreja é seu povo.

catedral_expo47. Planta em formato de Cruz

Como as antigas catedrais e basílicas cristãs, é criado o transepto. Ao mesmo tempo que diminui a sensação de distância dentro da igreja, amplia o espaço.

8. A centralidade do altar

No cruzamento formado pelo desenho da cruz é colocado o altar. Ele é o elemento mais importante do espaço celebrativo e, portanto, deve ser o centro de todas as atenções. É para ele que os olhares devem se dirigir. Ele é a origem de oito linhas de piso que saem em todas as direções, se propagam pela igreja e atingem o espaço aberto. Para quem está fora, essas linhas são convite para aproximar-se do altar e celebrar o Mistério. Tendo celebrado, essas mesmas linhas indicam os caminhos da missão. As linhas trazem a simbologia do número oito, o número do Cristo.

catedral_expo59. Assembleia ao redor do altar

O formato de cruz permite que a organização do espaço se dê ao redor do altar, diminuindo a distância entre ele e o último banco. Dessa forma, aproximamos as pessoas do centro da celebração na tentativa de permitir maior participação de todos.

catedral_expo610. Forro – a tenda sagrada

O povo de Deus, nômade rumo à Terra Prometida, carregava sob uma tenda a Arca da Aliança. Da mesma forma, ao acamparem no deserto, erguiam tendas que abrigavam suas famílias, seus amigos, as pessoas de sua confiança. Ela é sinal de proteção. A partir do centro, marcado pelo altar, saem como que ondas para os oito lados formando a grande tenda que cobre todo o espaço.

catedral_expo711. Fonte batismal

O Batismo, primeiro Sacramento, tem seu lugar na entrada, no átrio, o local do encontro e da preparação para a celebração. O mergulho na água viva transbordante lembra ao cristão sua vocação e missão.

catedral_expo812. Presbitério

O altar, o ambão da Palavra, a cátedra, a sédia, a cruz processional e o banco dos ministros formam o presbitério sob a luz de Cristo, o sol que não tem ocaso. A luz natural que vem do alto nos relembra o Espírito Santo enviado por Deus.