A Voz do Bispo › 24/02/2022

É no falar que o homem se revela

A primeira leitura deste final de semana é de uma sabedoria incrível. Em poucas palavras, servindo-se de três imagens do cotidiano, nos oferece uma mensagem muito interessante e pode ser iluminadora em várias situações nas quais podemos nos encontrar.

Vale apena transcrevê-la na integra em modo que cada uma possa tirar suas conclusões:

Quando a gente sacode a peneira, fica nela só os refugos; assim os defeitos de um homem aparecem no seu falar. Como o fogo prova os vasos do oleiro, assim o homem é provado na sua conversa. O fruto revela como foi cultivada a árvore; assim a palavra mostra o coração do homem. Não elogies a ninguém, antes de ouvi-lo falar; pois é no falar que o homem se revela” (Eclo 27, 5-8).

A conversa/fala humana comparada com o crivo da peneira, o calor do forno e os frutos da árvore diz a consistência daquilo que está em questão. E o que está em questão aqui é a tradição da fé judaica, a identidade e a vocação do povo de Israel que no segundo século está correndo risco de se contaminar com a cultura helênica. É um alerta ao povo eleito para discernir e avaliar bem os riscos eminentes do novo momento socioeconômico e político em que se encontra.

Parece dizer a Israel, presta bem atenção – passa tudo pelo crivo da peneira – veja se o que está sendo prometido e vendido como trigo bom, não é refugo, ilusão e sem valor algum; o calor do fogo revela se o vaso foi bem feito e tem consistência para aguentar as intempéries e os desafios da sua função (missão); os frutos da árvore revelam a qualidade da mesma e como foram produzidos. Não podemos deixar-nos enganar, comprando gato por lebre como costumamos dizer.

Algumas mensagens/lições que podemos tirar, entre muitas outras: Os que agem pela aparência podem fingir, enganar, disfarçar, representar, encenar como num teatro, mas as palavras de sabedoria só podem brotar de corações sinceros. Portanto, não nos deixemos impressionar pelas aparências, exterioridades e palavras bonitas, mas pelo bem que é expressão do coração.

O verdadeiro sábio é aquele que se inspira nas Escrituras, que orienta sua vida à luz dos princípios divinos.

Nesse tempo de escuta que a Igreja se propõe é importante saber ouvir e distinguir o que é voz do Espírito do que é discurso puramente humano e interesseiro.

Em um ano de eleições, onde se prometem mundos e fundos, escutar as falas e saber perceber a sinceridade de coração e os valores nos quais os candidatos se inspiram é determinante para fazermos escolhas acertadas.

O texto de Lucas vai na mesma linha de reflexão: “pelos frutos se conhece a árvore” e “a boca fala daquilo que o coração está cheio”, “onde está teu tesouro lá está teu coração” …

 

Para refletir: Se a boca fala daquilo que o coração está cheio. Do que mais falo no meu cotidiano? Quais os assuntos que mais trato com minha família e os meus íntimos? Na roda de amigos o que mais emerge? Onde está o centro dos meus interesses? De que o meu coração está cheio? Onde vai meu pensamento nos meus tempos livres?

 

Textos: Eclo 27, 5-8; Lc 6, 39-45; Sl 51.

 

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