A Voz do Bispo › 04/08/2017

É bom ser padre

 

O mês de agosto, na Igreja do Brasil, é dedicado às vocações. Nesta primeira semana, vamos refletir e rezar pelas vocações sacerdotais. Costumamos dizer: Dia do Padre. Depois seguiremos com as outras vocações.

Enquanto cristãos, somos todos chamados ao seguimento de Jesus. Pelo Batismo somos chamados à fé. As formas de segui-lo se diferenciam segundo os serviços específicos a serem assumidos na Igreja, povo de Deus. Por isso, as modalidades e exigências podem variar segundo a vocação própria e o estado de vida de cada um. Todas as vocações são importantes e dignas de estima, complementares umas das outras.

No caso específico do padre não basta querer sê-lo como no caso da escolha de uma profissão. Supõe um chamado especial que precisa ser discernido com muita oração e reflexão por parte dos candidatos usando dos meios que a Igreja coloca a sua disposição.

Devemos reconhecer que não é fácil, hoje, para um jovem trilhar o caminho do sacerdócio. Se antigamente era visto como uma questão de honra familiar ter um filho padre ou uma filha consagrada, agora socialmente falando, beira mais para a loucura e a insensatez.

Contudo, essa escolha não deixa de provocar nas pessoas certa curiosidade sobre essa nossa vida. É comum ouvir a pergunta: Como pode? Como chegou a essa decisão? Como aconteceu? O que o levou a seguir esse caminho?

Algo parecido a pergunta dos primeiros discípulos: “Mestre, onde moras, qual é o teu segredo?” Por mais que tentemos responder, nossa resposta nunca satisfaz plenamente, até porque a questão é tão profunda e íntima que por mais que se explique é difícil descrever o mistério da relação pessoal com Deus. A melhor saída é a resposta que Jesus: “Vinde e vede!”.

Infelizmente, muitos não conseguem entender devido a visão míope ou muito materialista e utilitarista da vida, até mesmo entre os praticantes da fé católica. Há uma grande pobreza de compreensão dos valores que acompanham o ideal da vocação sacerdotal. São muitos os que rezam pelas vocações, mas quantos são os pais que pedem a Deus de chamar o seu filho ou filha para seguir esse caminho da vida totalmente consagrada?

Quando o padre é visto, simplesmente, como um profissional do sagrado, seu significado fica comprometido e sua nobre missão ridícula e mesquinha.

A verdadeira compreensão desta vocação exige uma leitura na ótica da fé. Contudo, mesmo humanamente falando, o serviço que o padre presta junto à comunidade é nobre e digno, seja pelo lado social e muito mais quando se trata do aconselhamento espiritual e da administração dos sacramentos.

E, como não compreender a conveniência do celibato, tão contestado, quando há tanta gente mal amada, abandonada, desorientada, órfã precisando de alguém lhe faça de pai, mãe, irmão, irmã, ou seja, um ombro amigo que os escute e ajude a discernir os rumos de sua vida? Por que o celibato do padre incomoda tanto?

Quando assumimos o sacerdócio e suas exigências livremente, com conhecimento de causa, com uma visão teológica e espiritual adequada, segundo o projeto de Deus e o ensinamento da Igreja, experimentamos uma liberdade que os casados custam a entender. Sim, em muitos momentos estamos sozinhos, mas não na solidão vazia. Quando não estamos com o povo estamos em sintonia com ele, numa comunhão e vinculo espiritual muito profundo.

Se o padre se esforça de viver bem e com fidelidade sua missão junto à comunidade e essa aceita seu ministério nasce um vínculo afetivo, uma relação de paternidade e filiação espiritual de grandíssimo valor. Podem crer, nossa vida não é por nada estéril, pelo contrário, muito fecunda.

Enquanto pessoas humanas, somos suscetíveis a fraquezas e fragilidades como todos. Mas, se formos sinceros e esforçados na vivência do nosso ministério, somos para a comunidade cristã uma referência importante. Isso não por mérito nosso, mas pela graça própria do sacramento da Ordem e do serviço que prestamos ao povo confiado ao nosso pastoreio.

Exemplo disso é São João Maria Vianney, padroeiro dos párocos, que embora seus grandes limites a nível intelectual, conquistou a França e o mundo com sua piedade e generosidade.

Se posso pedir algo aos leigos e leigas, peço que nos cobrem autenticidade na vivência da nossa vocação e nos ajudem com sua oração, mas sempre com caridade, porque a misericórdia é sempre de mão dupla. Ela caminha junto com a verdade e deve fazer crescer tanto quem dá como quem recebe o perdão.

Digo a todos, mas especialmente aos jovens vocacionados que estão dispostos a escutar o chamado de Deus: é bom ser padre! Com isso não quero enganar ninguém dizendo que seja fácil, mas que vale a pena.

É bom não pela consideração que as pessoas têm por nós, nesse caso já teríamos a nossa recompensa, mas pelo bem que podemos fazer. Sem esquecer a promessa do Mestre Jesus: cem vezes mais neste mundo e a vida eterna.

Jovens, não tenham medo. Deus é mais!!!!!!

Dom Jaime Pedro Kohl

Bispo de Osório

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