Duas imagens simbólicas que traduzem muito bem a realidade de ontem – inicio do cristianismo – e de hoje – o momento complicado de polarização e violência – são os muros e as pontes. Há algumas décadas caíram muros e recentemente construíram-se muros, símbolo claro de separação, falta de acolhida e fraternidade. Já no templo de Jerusalém havia o muro de separação entre judeus e gentios que impediam qualquer aproximação.
Mesmo assim, graças ao bom Deus, os povos, mesmo com resistência e nem sempre por motivos de fraternidade, foram quebrando barreiras e construindo pontes. Ainda hoje, o intercambio acontece com certa naturalidade. Na maioria das vezes por motivos econômicos, questão de trabalho, representando empresas ou outras instituições, vão criando vínculos com culturas e povos bem diferentes. Por exemplo: uma sobrinha minha está em Singapura, na Ásia, a trabalho, não como missionária, mas tenho certeza que está derrubando muros e construindo pontes, edificando e deixando-se edificar pelo povo que lá vive.
O Evangelho da graça e da misericórdia que habita o coração humano revela-se como a força de Deus, que derruba os muros do preconceito. Assim as pessoas podem sentar-se em torno de uma mesa comum e partilharem juntas o pão! Efésios (2, 1-10) alerta para a necessidade premente de se aceitar plenamente as pessoas, que são diferentes, e ver nas diferenças a riqueza do corpo de Cristo. Não é possível estar com Deus e, ao mesmo tempo, discriminar e desrespeitar as outras pessoas por causa das suas diferenças étnicas, religiosas ou de gênero.
Em Jesus a divisão entre incircuncisos e circuncisos foi eliminada, vós que outrora estáveis longe; “fostes tornados próximos pelo sangue de Cristo”; “não sois mais estrangeiros nem migrantes, mas concidadãos dos santos, sois família de Deus”; “os pagãos são admitidos à mesma herança, membros do mesmo corpo, associados a mesma promessa, em Jesus Cristo, por meio do Evangelho”.
Portanto, o Evangelho trás em si essa força para superar toda e qualquer divisão, derrubar todos os muros e construir muitas pontes entre pessoas, famílias, grupos, comunidades e povos. A Boa-Nova desafia para experiências de superação de ódios, exclusivismos, preconceitos e exclusões.
Temos pela frente muitos muros a derrubar e muitas pontes a construir. A começar internamente na nossa Igreja Católica, entre grupos que não dialogam. Entre nós igrejas cristãs, devemos reconhecer que nosso ecumenismo está muito longe do ideal e precisamos dialogar mais. Politicamente, os muros parecem intransponíveis e os construtores de pontes coisa rara. Que no nosso cotidiano e onde quer que estejamos sejamos pessoas que constroem pontes de fraternidade e paz.
Para refletir: Eu acredito na força do Evangelho? Em que sentido ele tem poder de derrubar muros e construir pontes? Como posso participar nessa superação das divisões e na construção de novas relações humanas e cristãs?
Textos bíblicos: 2Cr 36, 14-23; Ef 2, 11-22; Jo 3, 14-21; Sl 136.