Há 52 anos, por ocasião da Ascensão do Senhor, Dia Mundial das Comunicações Sociais, o papa envia uma mensagem a todas as pessoas de boa vontade. Neste ano fala das notícias falsas: ‘Fake news’.
A comunicação humana é uma modalidade essencial para viver a comunhão. O ser humano é capaz de expressar e compartilhar o verdadeiro, o bom e o belo. Se orgulhosamente seguir o seu egoísmo, pode usar de forma distorcida sua faculdade de comunicar.
Hoje, assistimos ao fenômeno das notícias falsas. O papa previne sobre sua difusão, o valor da profissão jornalística e a responsabilidade pessoal na comunicação da verdade.
A referida expressão alude às informações infundadas, baseadas em dados inexistentes ou distorcidos, tendentes a enganar e até manipular o destinatário. A sua divulgação pode visar objetivos prefixados, influenciar opções políticas e favorecer lucros econômicos.
A eficácia das Fake news está na sua natureza mimética, na capacidade de se apresentar como plausíveis. Tais notícias são capciosas, no sentido que se mostram hábeis a capturar a atenção dos destinatários. A sua difusão pode contar com um uso manipulador das redes sociais.
A dificuldade em desvendá-las e erradica-las é devido ao fato de as pessoas interagirem muitas vezes dentro de ambientes digitais impermeáveis a perspectivas e opiniões divergentes.
Não é tarefa fácil contrastá-las, porque a desinformação se baseia muitas vezes sobre discursos variegados, deliberadamente evasivos e sutilmente enganadores, valendo-se por vezes de mecanismos refinados.
Precisa desmascarar a “lógica da serpente”, capaz de se camuflar e morder em qualquer lugar. O tentador aproxima-se da mulher, fingindo ser seu amigo. Ela chega a desconfiar da recomendação paterna de Deus, que tinha em vista o seu bem, para seguir o aliciamento sedutor do inimigo: “Vendo a mulher que o fruto devia ser bom para comer, pois era de atraente aspecto, agarrou e comeu.” (Gn 3, 6). Fiar-se daquilo que é falso produz consequências nefastas.
As Fake news tornam-se frequentemente virais, propagam-se com grande rapidez e de forma dificilmente controlável pelo fascínio que detêm sobre a avidez insaciável do ser humano.
Educar para a verdade significa ensinar a discernir, a avaliar e ponderar os desejos e as inclinações que se movem dentro do ser humano.
O antídoto mais radical ao vírus da falsidade é deixar-se purificar pela verdade. Na visão cristã, a verdade não é uma realidade apenas conceptual, mas tem a ver com a vida inteira. O único verdadeiramente fiável e digno de confiança sobre o qual se pode contar é o Deus vivo: “Eu sou a verdade.” (Jo 14, 6). “A verdade vos tornará livres.” (Jo 8, 32).
A verdade brota de relações livres entre as pessoas, na escuta recíproca. Uma argumentação impecável pode basear-se em fatos inegáveis, mas, se usada para ferir o outro e desacreditá-lo, por mais justa que apareça, não é habitada pela verdade. Os frutos revelam a verdade dos enunciados.
O jornalista, guardião das notícias, não desempenha apenas uma profissão, mas uma verdadeira missão. Informar é formar, é lidar com a vida das pessoas. A precisão das fontes e a custódia da comunicação são verdadeiros processos de desenvolvimento do bem, que geram confiança e abrem vias de comunhão e paz.
O papa convida para um jornalismo de paz, sem fingimentos, hostil às falsidades, slogans sensacionais e declarações bombásticas; feito por pessoas para as pessoas, especialmente àquelas que não têm voz; que não se limite a queimar notícias; empenhado a indicar soluções alternativas às “escalation” do clamor e da violência verbal.
Sejamos divulgadores de boas notícias!
Para refletir:
1. Tenho o habito de verificar a fonte das notícias que chegam até mim?
2. O que e como fazer para não me deixar enganar pelas notícias falsas?
3. Comunicar bem o bem é minha preocupação?
Textos Bíblicos: At 1,1-11; Gn 3, 1-15; Jo 8, 31-38