“Põe a semente na terra não será em vão, não te preocupe a colheita, plantas para o irmão”. Quem não lembra desse refrão cantado em nossas Igrejas há alguns anos? Essas palavras trazem um conteúdo bonito e com sua musicalidade tocam nosso coração, convidando-nos a acolhida, condição para a fecundidade.
Lendo o Evangelho deste Domingo, a parábola do semeador, veio a minha memória esse verso que ficou martelando dentro de mim. Meditando essas palavras poéticas que traduzem a realidade da minha vida e missão como a de tantos irmãos e irmãs, pais e mães, catequistas, educadores, sacerdotes, religiosos e religiosas, missionários e muitos homens e mulheres de boa vontade, preocupados com a construção do Reino e a transformação da realidade que clama por paz.
O semeador é uma pessoa de esperança, alguém que acredita no futuro. A atividade de semear é uma ação humano-divina que exige confiança. É todo um processo de trabalho cuidadoso, desde o preparar a terra, escolher a semente e lançá-la no tempo certo, regar e esperar que germine, cresça, amadureça até chegar aos frutos desejados.
Esse trabalho simples do agricultor-Deus que semeia a boa semente nos corações das pessoas é contínuo, faça chuva ou faça sol, de dia e de noite. Jesus disse que o Pai trabalha sempre. Ou seja, está sempre presente na vida dos seus, tanto que, nem sequer um cabelo de nossa cabeça cai sem que Ele consinta. Ele está continuamente passando pela nossa vida e semeando, deixando cair sua Palavra, seu Espírito, sua graça, sua benção, sua consolação. E como nos encontra?
Alguns distraídos, alienados, sonhando com coisas que nunca vão se realizar, quais andarilhos perambulando pelas estradas da vida. Este seria o caso das sementes que caíram ao longo do caminho que os pássaros comeram.
Outros andam entulhados de coisas materiais, apaixonados com o consumismo, continuamente a caça de produtos novos para satisfazer seus desejos, seu exibicionismo, suas vaidades. Poderiam ser as sementes que caíram entre espinhos.
Há também aqueles que se deixam comandar pelas novelas, que acham que tudo no mundo é um romance e diante da primeira dificuldade caem no desespero, perdendo-se no vício da bebida, droga, jogatina e prostituição. Seria esta a semente caída em terreno pedregoso, sem profundidade, que ao primeiro sol logo seca, porque não tem consistência.
Graças ao bom Deus, temos também gente séria, coerente, autentica, dedicada a servir os outros, amante da verdade, capaz de lutar por vida digna, respeito pelas pessoas e por justiça social, pelo bem comum. Este seria o terreno bom que produz fruto, quer 30, 60 ou 100 por um.
Espero não ser demasiadamente otimista, mas creio que a maioria se enquadre neste quarto caso de que fala o Evangelho, pois, segundo pesquisa do Ibope, somente 1% dos brasileiros diz não acreditar em Deus. Embora saibamos que é muito maior a porcentagem dos que vivem como se Deus não existisse, nos alegra saber que 99% reconhece a existência de um ser superior e transcendente, do qual de alguma forma dependem.
Para mim é sinal de esperança porque nos faz acreditar que o terreno no povo brasileiro é bom. E como a semente, a Palavra de Deus, é sempre boa e eficaz, o encontro dessas duas bondades só pode produzir bons frutos. Portanto, o que se impõe a nós cristãos é a missão de semear a Palavra de Deus, evangelizar. Essa é a missão de todos nós cristãos.
Nesse país, um dos maiores produtores de grãos do mundo, onde se semeia e se planta muito, que tem um clima e solo privilegiado, possamos produzir muito mais frutos bons de vida, esperança, fé, solidariedade, fraternidade, comunhão, paz, alegria, ao ponto de podermos exportar esses deliciosos produtos aos quatro cantos do mundo, sem nada cobrar, partilhando o dom que nós mesmos recebemos de Deus.
Uma antiga propaganda de adubos químicos dizia: “Com Maná, adubando dá!”. Podemos continuar a rima dizendo: “Anunciando o Evangelho com fé o mundo vai melhorar!”.
Retomando nosso refrão “põe a semente na terra, não será em vão, não te preocupe a colheita plantas para o irmão”, equivale afirmar que plantando para o irmão, com desprendimento e amor, a colheita está garantida.
Vamos juntos plantar no mundo a melhor semente que Deus nos deu, o seu Filho amado, que o mundo todo vai ficar saciado e contente, porque somente quem dele comer nunca mais terá fome e quem dele beber nunca mais terá sede e tornar-se-á uma fonte de água vida que jorra para a vida eterna.
Coloquemo-nos no seu caminho, juntemo-nos ao grupo dos seus e vamos pelo mundo afora semeando a boa semente do Evangelho. A promessa é do cêntuplo nesta vida e a vida eterna.
O caminho seguro e certo é não se preocupar com a colheita, plantando para o irmão. Pode parecer estranho, mas é assim. Faz parte dos paradoxos do Evangelho: é dando que se recebe, é morrendo que se vive. É plantando para o outro, saindo do nosso individualismo, que o nosso regaço vai ficar cheio de graças e bênçãos.
“Põe a semente na terra não será em vão, não te preocupe a colheita, plantas para o irmão”.
Dom Jaime Pedro Kohl
Bispo de Osório