Neste sábado, 2 de setembro, estamos celebrando na diocese de Osório, o 17º Congresso do Apostolado da Oração e Capelinhas. Esse encontro de oração me dá a oportunidade de escrever a mensagem semanal falando da oração. Logo me veio a pergunta: mas por que rezar? Achei que esse seria o questionamento que muita gente me faria diante do convite a rezar.
Fala-se de “apostolado” da “oração”, isso significa que a oração tem um poder de fazer acontecer, transformar, purificar e santificar.
Quem ainda reza hoje com este objetivo? Quanto rezamos em nossas casas? Quem sai de casa durante a semana para rezar? Quanto tempo nossas igrejas estão abertas para quem desejasse rezar a sós? Quantos sabem com quem estão as chaves da Igreja se quisessem fazer um pouco de adoração? E quando participamos de uma celebração da comunidade, quanto participamos efetiva e afetivamente, deixando-nos envolver cantando e rezando com a assembleia?
Vos confesso que andando pelas nossas comunidades por ocasião da Visita Pastoral, que tenho realizado ao longo de 2017, o que mais me inquieta é perceber a pouca vibração dos nossos católicos, a atitude de passividade de uma grande parte das pessoas que vão às nossas celebrações. Tem gente demais que se contenta em “assistir” a missa, não abre a boca nem sequer para dizer: ‘Amém! ’ Talvez, eu exagere, mas para mim é trágico demais.
Ver jovens e adolescentes crismandos que estão prestes a receber a plenitude do Espírito Santo e não abrem a boca para rezar, cantar, louvar… é preocupante.
Parece que ouvem muito quando lhes falo, mas me vem a dúvida: será que escutam alguma coisa se quando é sua vez responder e participar da oração ficam mudos?
Olhando um pouco por onde passei me vem de pensar que faz parte do nosso jeito gaúcho de viver a fé, porque em outras regiões do Brasil por onde passei não é assim. Mesmo que fosse, não pode continuar assim.
A culpa pode ser nossa que não ensinamos a rezar, fizemos a renovação da liturgia, mas não trabalhamos o relacionamento pessoal com Deus e nem o sentido dos gestos e palavras que fazem nossos ritos.
Parece que as pessoas têm vergonha de responder as orações, participar do canto, manifestar um sentimento. Será que não acreditam em Deus, na sua presença? Mas, se estão presentes devem ter fé e porque então esse pouco envolvimento pessoal? Me vem de pensar que conferimos os sacramentos sem iniciar as pessoas à vida cristã. Se for isso vislumbramos a solução.
Trago esses questionamentos justamente por ocasião do Congresso do Apostolado da Oração e Capelinhas. Dizer “apostolado” da “oração” é reconhecer que a ORAÇÃO tem um poder transformador, de conversão e santificação de si e dos outros para os quais oferecemos nossas preces. Embora, muita gente ache que dedicar tempo à oração seja tempo perdido, tem quem não tem receio de jogar toda a sua vida nessa atividade, como é o caso das congregações de clausura, monjas e monges, grupos e novas comunidades.
Só reza quem acredita em Deus, no seu poder e no seu amor por nós. Quem nunca reza não tem fé e acha que não precisa de Deus. Essas pessoas acabam vivendo como pagãos, mesmo sendo batizados, crismados e se dizer católicos.
Claro que se não se entende porque rezar será difícil dar tempo à oração ou se envolver quando se está presente nos momentos de celebração. Certas celebrações de casamentos, de encomendação, então nem se fala. O ministro tem que se virar até mesmo com as respostas que deveriam vir dos presentes… Silêncio de tumba… Até quando podemos nos consolar com o princípio do “Suplet eclesiam”, ou seja, que supre a fé da Igreja? Até quando vamos delegar ao grupo de canto ou ao comentarista responder por nós em nossas liturgias?
Desculpem se estou exagerando, mas que a coisa não está boa, não está mesmo. Ou será que tem alguém que quer voltar a missa de costas para o povo e rezar o terço durante a celebração?
Não querendo convencer ninguém, mas desejando ajudar, digo que é conveniente rezar, mesmo que não seja fácil, porque a oração nos ajuda a fazer um juízo correto de nós mesmos, na nossa relação com Deus e com os irmãos; nos ajuda a manter o equilíbrio e a paz de espírito; produz em nós uma consistência interior e capacidade de ação diante dos desafios e lutas do dia a dia; ajuda a responder ao mal com o bem; porque somos pequenos e frágeis; porque não somos deuses, mas apenas filhos do Deus amor, que tudo pode e sustenta os que a Ele se confiam.
Olhemos para Jesus, mesmo sendo Filho Unigênito do Pai, se retirava continuamente em lugares retirados para orar e não deixava de frequentar o templo e a sinagoga.
Assim, nas celebrações comunitárias não deixemos que os outros respondam por nós, cantem por nós, rezem por nós. É nosso direito participar ativamente. A pessoa assiste a missa pela televisão, mas celebra na comunidade. Ali a presença de Jesus é certa sob três sinais: na assembleia reunida, na Palavra proclamada, no Pão partilhado. Outros sinais litúrgicos – vestes, livros, altar, ministros, imagens, círio, cruz, imagens, pinturas, sons, silêncios – criam um ambiente propício para quem deseja vivenciar um encontro com Deus através da celebração litúrgica.
Santo Agostinho que muito relutou para aceitar a fé, filho convertido graças à oração persistente de sua mãe, compreendeu que o nosso coração está inquieto, enquanto não repousar em Deus.
Mesmo não sentindo grades coisas, vale a pena continuar rezando e dando oportunidades à Deus para se revelar e manifestar seu imenso amor por nós.
Bom, se pudéssemos dizer como o profeta Jeremias: “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir! ”.
Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório