Segundo um ditado italiano “o pior vinho tinto é sempre melhor que o melhor vinho branco”. Não sabemos se a água convertida em vinho em Canã da Galileia por Jesus era branco ou tinto. E não é nosso objetivo dar uma lição de enologia.
Embora o tempo da epifania termine com o Batismo de Jesus, a manifestação da sua identidade e missão continua em muitos outros textos bíblicos da nossa Liturgia. Como é o caso de Jo 2,1-11 deste final de semana: o milagre das bodas de Canã.
Jesus foi convidado para uma festa de casamento junto com seus discípulos. A mãe Dele também estava lá. Como veio a faltar vinho, ela percebeu e apresentou o caso ao seu filho: “Eles não têm mais vinho”. Ele parece não mostrar muito interesse, mas acaba se envolvendo para evitar a situação de desconforto do casal e não só, claro.
Maria diz aos que estavam servindo: “fazei tudo o que vos disser”. Jesus pede aos servos de encher as seis talhas de água das abluções até a borda. Realizada a benção ordenou aos servos que fosse servido aos convidados.
O mestre sala, que nada sabia da origem daquele vinho, depois de saboreá-lo elogia o noivo por ter deixado o ‘melhor vinho’ para o fim da festa. O evangelista concluiu: “Este foi o início dos sinais de Jesus, manifestou a sua glória e os discípulos creram nele”.
A manifestação da glória de Jesus é manifestação da sua identidade e missão. Reparemos que João não fala de “primeiro sinal”, mas em “início dos sinais de Jesus”. Outros sinais, palavras e gestos prolongam a epifania.
Alguns outros detalhes nos ajudam a entender a amplitude da mensagem desse texto. O evangelista não pronuncia o nome “Maria”, mas “a mãe de Jesus”. Jesus não a chama de mãe, mas “mulher”. E ainda: “a minha hora não chegou”.
Esse jeito de falar remete ao gênesis, quando outra mulher e outro homem romperam com a harmonia, estragaram a festa da humanidade que agora parece se recompor com a participação fiel de Outro homem e de Outra mulher. Os ‘sinais’ estão dizendo que chegou a hora da salvação prometida.
As “seis talhas de pedra” para a purificação que estavam lá vazias indicam o ritualismo vazio que nada purificava. O “vinho melhor” pode ser entendido como cálice da nova e eterna aliança, a realização da promessa messiânica, a salvação oferecida aos que entram no discipulado.
Num certo sentido, estamos vivendo o tempo do Vinho Novo, da Nova Aliança, do Novo Casamento de Deus com a humanidade. O momento é novo e a expectativa é nova. A novidade é Ele: Jesus!
Muita gente não tem mais o “vinho melhor” da alegria e da esperança cristã. Só o encontro com Jesus pode dar um novo sentido a vida de muitos, que andam desesperançados, agoniados e desiludidos. Entremos para a festa onde todos estão convidados e não precisa pagar ingresso: a festa do amor misericordioso capaz de transformar a água em vinho, as trevas em luz, a morte em vida plena.
Para refletir:
Textos bíblicos: Jo 2, 1-11; Is 62, 1-5; 1 Cor 12, 4-11; Sl 95(96).