A Voz do Bispo › 26/06/2021

Quem me tocou?

O Evangelho deste final de semana nos traz a situação de duas mulheres que numa situação de fragilidade recorrem a Jesus e pela fé arrancam dele um benefício grande para suas vidas.

O texto é um tanto longo, Mc 5, 21-43, mas vale apena lê-lo e meditá-lo com calma. Os dois milagres se misturam. Difícil saber qual a intenção do evangelista: uma mulher doente há 12 anos, desenganada pelos médicos e uma adolescente de 12 anos, agonizante. Talvez, esse número 12 tenha algo em comum.

Se para uma, o fluxo de sangue a torna estéril e impura – segundo a religião daquele povo – a outra morrer aos 12 anos é morrer na idade de se tornar mulher. As duas são expressão de uma vida estéril, de humilhação e exclusão.

Neste cenário – podemos dizer de morte – Jesus é aquele que restitui a vida em plenitude. Embora cercado por uma multidão, se interessa pelas pessoas nas suas particularidades. Seja a mulher que sofria de hemorragia, como o pai da menina são movidos pela fé.

A mulher depois de tanto sofrer nas mãos dos médicos sem sucesso, tendo ouvido falar de Jesus, acredita que se ao menos tocar nas suas vestes ficaria curada. E foi o que fez, aproveitou da confusão e tocou na veste de Jesus. Ela logo sentiu que a hemorragia se estagnou e, Jesus, que uma força se desprendeu dele e perguntou: “Quem me tocou?” Ela caiu aos seus pés e contou a verdade. E Jesus lhe disse: “Filha, a tua fé te curou”.

Não muito diferente no seu conteúdo é a cura da filha de Jairo. Dizem a ele: “Tua filha morreu. Porque ainda incomodar o mestre?” Ouvindo isso, Jesus lhe diz: “Não tenhas medo. Basta ter fé”. Chegando na casa em meio a confusão, Jesus com o pai e alguns discípulos vai aonde está a menina, pega em sua mão e ordena: “Talitá cum!” que quer dizer: “Menina levanta-te!” Ela levantou-se e começou a andar.

Certamente no meio da confusão mais gente tinha tocado na veste de Jesus, mas não com mesma disposição interior, movida pelo sofrimento e humilhação a que estava submetida pelo preconceito religioso e cultural da época. Tocar e deixar-se tocar não está de moda em época de pandemia, mas justamente pelo angustia e medo que ela gera, precisamos apostar mais no poder da fé e da oração, sem desprezar os conhecimentos e meios que a ciência coloca a nossa disposição. Ciência e fé andam sempre de mãos dadas e se complementam quando bem compreendidas.

No caso da mulher é ela que toca em Jesus. No caso da filha de Jairo é Jesus que toca na menina dando ordem de levantar, pôr-se de pé e viver. O resultado é o mesmo: a reabilitação de pessoas em situação de morte para uma situação de inclusão e vida plena.

 

Para refletir: Será que Jesus se interessa pelos meus problemas e dificuldades nas quais me encontro? Quanto acredito que efetivamente pode e quer me ajudar? Eu confio Nele? Costumo recorrer a Ele? O que experimento? Sinto sua presença atuante na minha vida?

Textos bíblicos: Sab 1,13-24; 2Cor 8, 7-15; Mr 5, 21-43; Sl 29(30).

 

 

 

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