O evangelho de Marcos 9, 30-37 de forma muito pedagógica mostra que o primado do serviço no seguimento de Jesus é um ponto fundamental na vida do cristão. Não é difícil de compreender isso, basta pensar que muitas vezes deixou bem claro que Ele veio para servir e não para ser servido. Se essa é a identidade e a missão do nosso Mestre e Senhor, a nossa – seus discípulos – não pode ser diferente. O texto apresenta dois momentos: durante o caminho e depois em casa.
Segundo Francisco Rodrigues, que comenta este texto na Revista Vida Pastoral, na perspectiva de Marcos, caminho e casa são os lugares privilegiados da experiência cristã. O caminho significa instabilidade, dinamismo, denotando a natureza missionária da Igreja e a necessidade de estar sempre em saída. A casa significa a necessidade das relações fraternas e sinceras que devem marcar a vida da comunidade; é o lugar da acolhida, da compreensão e da vivência do amor.
Jesus percebeu ao longo do caminho que seu anuncio da paixão não era compreendido, porque a ideia que os discípulos tinham de Messias não batia com a Dele: do Servo sofredor. A discussão entre eles era sobre quem seria o maior. O que revela ambição, sede de poder, rivalidades, coisas incompatíveis com a lógica igualitária do Reino de Deus.
Ele contorna a situação convidando os discípulos a renovar a vocação originária, corrompida pelas pretensões de poder e ambição que estavam alimentando, mostrando que há um só modo de ser o primeiro na comunidade: fazendo-se último e servo de todos. Assim deixa claro que o serviço é o primeiro sinal distintivo do seu discipulado. Trata-se de um serviço motivado pelo amor, desinteressado e universal.
Com o gesto de pegar uma criança, abraçá-la e colocá-la no meio, Jesus recorda que as pessoas mais vulneráveis e necessitadas devem ser as primeiras destinatárias da atenção e dos cuidados dos seus discípulos servidores. E acolhe-las é acolher Ele e o Pai que o enviou.
Quanto o mundo e, também, a Igreja seriam diferentes se, ao menos nós cristãos, entendêssemos essa lógica do Reino de Deus, a proposta de Jesus: que reinar é servir. Feliz quem consegue compreender que o primado do serviço é o distintivo dos seguidores de Jesus. Quando falta esse espírito de serviço o poder se torna promoção pessoal e, quase sempre, corrupção, usurpação e exploração dos humildes e pequeninos. “Entre vós não deve ser assim” (Lc 22, 26).
Para refletir: O que pensamos e conversamos no nosso caminho sobre o poder? Será que ainda não continuamos a pensar como os discípulos de Jesus antes da conversão? Estamos dispostos e desejosos de servir ou ser servidos? Acreditamos de verdade que tudo o que fizermos a um destes pequeninos é a Jesus e ao Pai que o fazemos?
Textos Bíblicos: Sb 2,12.17-20; Tg 3, 14-4,3; Mc 9,30-37; Sl 53(54).