Depois de dar-nos conta da necessidade de padres santos e pais presentes, nesta semana é a vez dos consagrados e consagradas chamar nossa atenção. Provavelmente, não todos concordam comigo, mas não importa, para mim a Vida Consagrada, seja masculina, seja feminina, é vida bonita.
A Vida Consagrada mediante os votos de pobreza, castidade e obediência por toda a vida e para sempre é algo realmente encantador que produz uma beleza que não dá para descrever, somente perceptível ao olhar puro e atento, contemplativo e aberto à verdade mais profunda.
Não é uma beleza estética segundo os padrões da moda do mercado consumista, dos modelos e manequins, mas na linha do “belo”, daquela beleza que vem do coração puro e genuíno, que se depreende no olhar das almas sensíveis, carregadas de humanidade e que refletem o divino.
A vida do jovem ou da jovem oferecida em serviço aos irmãos (vida religiosa ativa) e/ou do culto a Deus (vida religiosa contemplativa ou seja monacal e enclausurada) não é para todos, mas grande graça para quem sente-se chamado a esse seguimento radical de Jesus, para sua família e comunidade e uma benção para os destinatários do seu serviço. O mistério desta vocação só é compreendido na lógica do amor e da fé.
Na lógica do mundo utilitarista e consumista isso beira a covardia, a estupidez. O “mundo” não acredita que isso seja possível ou tenha algum valor, muito menos, que isso faça uma pessoa feliz e realizada.
Uma ideia errada de liberdade leva pais e familiares a achem que a vida consagrada seja cerceadora de direitos e da liberdade da pessoa. Mas na verdade é fonte da verdadeira liberdade, aquela liberdade interior, desapego te tudo e de todos, própria de quem entregou tudo e não tem mais nada a perder, por isso pode estar na periferia, na fronteira e no deserto para anunciar o Reino de Deus.
Devemos reconhecer que as vocações, especialmente femininas, estão diminuindo, mas não é porque Deus não esteja chamando e, sim, porque falta um clima que favoreça a escuta e uma educação para os valores espirituais e religiosos.
É difícil aos jovens de hoje, condicionados por visões incorretas, optar por uma vida de total consagração, contudo não são menos generosos do que ontem.
Não é de estranhar a reação de jovens bons que diante do convite reajam dizendo: “Eu não sou louco!”
Pensando bem, eles têm certa razão. Deixar as benesses e comodidades que o mundo oferece para dedicar-se gratuitamente ao serviço dos outros e à oração, não é para qualquer um. Só para quem é realmente chamado e entendeu o sentido e o valor da vida consagrada.
A vida consagrada é um sinal para a própria Igreja e para a sociedade, lembra a importância do seguimento de Jesus e o absoluto de Deus. A entrega, total e para sempre, da própria liberdade, afetividade e direito de possuir são um anúncio de algo maior que nem a todos é dado compreender.
O consagrado é todo de Deus, alguém que foi admitido à intimidade pessoal, permitindo ser transformado por dentro e reservado para uma missão especial.
“Como toda a existência cristã, também a vocação à Vida Consagrada está intimamente relacionada com a obra do Espírito Santo. É Ele que pelos milênios a fora, sempre induz novas pessoas a sentirem atração por uma opção tão comprometedora.
É o Espírito Santo que suscita o desejo de uma resposta cabal; é Ele que guia o crescimento desse anseio, fazendo amadurecer a resposta positiva e sustentando, depois, a sua fiel realização; é Ele que forma e plasma o espírito dos que são chamados, configurando-os a Cristo casto, pobre e obediente, e impelindo-os a assumirem a sua missão”.
Hoje, precisamos de pessoas que embarquem nessa aventura de um amor sem medida, apostando tudo em Deus e no seu Reino.
Deus continua perguntando a muitos, como ao jovem Isaias: Quem é que vai?
É bonito e uma grande graça poder responder: “eis-me aqui, manda-me!”
Dois terços da humanidade espera ser evangelizada, espera pela profecia e testemunho de irmãos e irmãs que deixam tudo para ir onde haja uma alma a salvar.
O primado da graça na vocação encontra a sua perfeita proclamação na palavra de Jesus: “Não foram vocês que me escolheram, mas eu escolhi vocês e vos constituí para irdes e produzirdes fruto e que o vosso fruto permaneça” (Jo 15, 16).
Assim, a vocação é sempre dom da graça divina e nunca um direito da pessoa humana. Se olharmos a história da Igreja percebemos como ao longo dos séculos, o Espírito irrompeu muitas vezes, suscitando formas de vida consagrada próprias para cada época, nem sempre compreendidas num primeiro momento, mas que se manifestaram oportunas e convenientes.
Que o Senhor nos dê olhos para ver estas encantadoras maravilhas divinas que vai operando nos corações dos que ouvindo o chamado, respondem SIM e entregaram-se totalmente nessa aventura de fé e amor.
Sim, a vida consagrada é bonita demais!
Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório